A tecnologia que deveria matar as lagartas na lavoura de milhos
transgênicos, não está conseguindo eliminar a praga. Em algumas regiões
do país, como o Paraná e Distrito Federal, produtores estão preocupados
com o prejuízo.
O agricultor Ildefonso Ausec plantou na safrinha 60 hectares de milho no município de Ourizona,
norte do Paraná. A lavoura é transgênica, que deveria ser resistente à
lagarta. A praga também atacou o milharal de seu irmão, João Paulo.
“É só procurar que tem. Essa é a lagarta do cartucho. Não tem dúvida”,
conta o agricultor.
A lagarta tem esse nome popular, porque fica escondida no funil da
planta, no chamado cartucho, onde as folhas se formam. O nome científico
dela é bem mais complicado: spodoptera frugiperda.
O agrônomo Erico Rigolim explica como o milho transgênico foi
programado para resistir ao ataque das lagartas, através da inserção de
um bacilo na semente. “Um determinado bacilo ataca no intestino, no
aparelho digestivo da lagarta transformando em cristais e matando o
bicho, mas não está funcionando porque está criando resistência”.
Apenas em uma área, o produtor Ildefonso já passou veneno quatro vezes,
e ainda assim a infestação é grande. A maioria das plantas está com as
folhas bem estragadas, cortadas.
A nota fiscal do agricultor comprova a aquisição das sementes
transgênicas com a tecnologia Herculex. Ele adquiriu sementes da empresa
Pioneer, da variedade p-3431 h.
Ildefonso começou a passar inseticida 15 dias após o plantio. “O tamanho que ela está não tem condições. O prejuízo será muito maior agora se insitir em passar veneno. Até quando?”, questiona Ildefonso.
Ildefonso começou a passar inseticida 15 dias após o plantio. “O tamanho que ela está não tem condições. O prejuízo será muito maior agora se insitir em passar veneno. Até quando?”, questiona Ildefonso.
O problema não está acontecendo apenas no Paraná. Em Tabatinga, no
Distrito Federal, os produtores que cultivaram milho transgênico,
enfrentam o mesmo problema. O agrônomo Gilson Rodrigues diz que isso
está ocorrendo com uma determinada tecnologia. “Observamos
principalmente na tecnologia Herculex”.
O que intriga os produtores e técnicos é que, mesmo seguindo as
orientações do cultivo de transgênicos, o ataque das lagartas persiste. O
agricultor Eduardo Tiggemann, por exemplo, fez a chamada área de
refúgio. A parte do milho transgênico é de 450 hectares. Ao lado, ele
cultivou um talhão de 45 hectares com a variedade convencional.
O objetivo do refúgio é permitir que aconteça na área o cruzamento das
lagartas que frequentam os dois tipos de milho e assim evitar que elas
criem resistência ao transgênico. "Em relação ao número de lagartas hoje
você não consegue ver diferenças entre as duas plantações. O número de
lagartas por planta é a mesma nas duas tecnologias", conta o agricultor.
O Globo Rural procurou a resposta das duas empresas que vendem essa
tecnologia no Brasil. Nós procuramos a empresa Dow Agrosciences, que
desenvolveu a tecnologia do milho transgênico. Ela nos informou que a
responsabilidade cabe a outra empresa, a Pioneer, do município gaúcho de
Santa Cruz do Sul.
É ela que produz e vende a semente Herculex no mercado brasileiro. A
Pioneer não quis dar entrevista gravada e respondeu através de nota, que
a maioria dos agricultores não adota todas as práticas de controle,
como áreas de refúgio, monitoramento e rotação de culturas.
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