quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

UM CONTO DE NATAL

A LOIRINHA DO BAIRRO

    - Olha, mãezinha, tu disseste que eu amanhã iria brincar com a Ritinha, a filha do promotor, lá na chácara. E eu  ainda estou com febre. Minha pele arde, minha cabeça dói. Nem poderei ver o presépio, ir à Casa Espírita, nem nada..


Pobre criaturinha! Havia dias já, a febre prostara-a na cama, na sua pobre cama de menina pobre. A mãe, única riqueza que possuía, triste senhora que vivia sabe Deus como,  não lhe podia comprar remédios. E sofria, coitada, sofria muito, mais do que a filha, talvez. E tentava acalmar, procurava sossegar aquele espiritozinho atormentado pelo sofrimento, passando-lhe, de leve, caridosamente, as mãos esguias e pálidas sobre a plumagem loira dos cabelos.

-   Ora, filhinha, não te entristeças. Amanhã estarás boa. Completamente.
E que belo irá ser o dia na casa da filha  do promotor! Todas as crianças do bairro estarão lá.

      Era véspera do Natal.

    Uma tarde boa, suave, silenciosa, desaparecia, escondendo-se nas trevas. O sol, lá ia, sonolento, se afundando no oceano de púrpura do poente. Doce aragem embalava o ambiente como perfume das rosas que, num contraste surpreendente mas agradável, pompeavam no pequeno jardim da casinhola humilde.

      Anoitecia.

      E a pequenina piorava cada vez mais. Tinha as faces murchas; olheiras profundas; lábios ressequidos; e a febre terrível que não passava.
      Em dado momento, porém, um sorriso lindo, muito lindo, como se fosse o sorriso de uma flor, iluminou o rosto da pequena enferma.
      No seu cérebro esvoaçavam idéias vagas, pensamentos indecisos. Em êxtase, enlevada talvez consigo mesma, ela recordava as palavras de Dona Etelvina, a velhinha boa da vizinhança, que a viera visitar:
      - Tu vais ficar boa, menina. Não sabes que amanhã é o dia do nascimento de Jesus, o amigo das criancinhas pobres como tu? Pois é. Bem cedinho, Papai Noel... Já ouviste falar em Papai Noel? Pois bem, de manhãnzinha ele sai enchendo de presentes, de coisas bonitas todos os sapatos que as criancinhas deixarem hoje à noite na janela.

      Delirava.

      Sorria. E como estava linda!

      Mãezinha, vê os meus sapatos para eu colocar ali na janela.

      Nisso, como que acordou de um grande sonho, de um sonho muito leva, muito lindo, mas entristeceu. Quis erguer-se; não pode.

E elevando com dificuldade as mãozinhas magras, franzinas, brancas com dois lírios, esfregou levemente os olhos tristes. A mãe acudiu logo:

      O que é isso, filhinha, estás chorando?

     Pobre loirinha do bairro! Papai Noel vinha de madrugada encher de brinquedos os sapatos das crianças. Coitadinha! E ela nem tinha sapatos...

      No outro dia, quando o Padre Eterno elevou a hóstia sagrada do sol, na prece pelo Natal, lá ia Papai Noel levando a menina mais linda e mais loira do arrabalde. Fora o melhor presente que encontrara para o sapatinho do menino Jesus, lá no céu...

(Moura Rêgo)



Fonte:
http://www.forumespirita.net/fe/accao-do-dia/a-historia-do-natal/#ixzz2E60s7vP6 

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