Praticamente
todo mundo já sofreu de coração
partido alguma vez na vida, não? Parte de viver inclui lidar com
rejeição, traição, solidão e outros sentimentos tão terríveis que parece doerem
como doenças físicas.
E doem
mesmo. Pesquisas recentes mostram que a dor da rejeição dispara os mesmos
neurônios no cérebro que a dor de uma queimadura ou contusão. Além de explicar
por que algumas pessoas têm a pele mais espessa que outras, este fato revela
uma ligação íntima entre a vida social e a saúde, que cada vez mais estudos
dizem ser intrincadas. Ou seja, coração partido e queimadura são a mesma coisa para o cérebro.
Dor
física = dor emocional
Estudos
com animais nos anos 1990 já haviam mostrado que a morfina não apenas aliviava
dores de lesões, mas também podia reduzir a dor de filhotes separados de sua
mãe. Mais tarde, no início de 2000, Naomi Eisenberger, da Universidade da
Califórnia em Los Angeles (EUA), começou a estudar sentimentos que causam dor
em humanos.
Outras
pesquisas descobriram que a dor física e a angústia emocional podem, por vezes,
alimentar uma à outra.
Quando
as pessoas se sentem excluídas, ficam mais sensíveis a se queimarem, por
exemplo, bem como submergir a mão em água gelada por um minuto leva as pessoas
a se sentirem ignoradas e
isoladas posteriormente.
O
inverso também é verdadeiro: um calmante pode aliviar a resposta corporal à dor
de um insulto. Nathan DeWall, da Universidade de Kentucky em Lexington (EUA),
recrutou 62 alunos para um estudo, sendo que metade foi dosada com até dois
comprimidos de paracetamol (analgésico) todos os dias durante três semanas, e a
outra metade recebeu apenas placebo.
Cada
noite, os alunos responderam a um questionário medindo seus sentimentos de
rejeição durante o dia. Ao final de três semanas, o grupo do paracetamol tinha
desenvolvido pele significativamente mais espessa, sendo que também relataram
menos sentimentos de rejeição durante seu dia-a-dia.
Um
jogo de Cyberball subsequente confirmou o efeito: aqueles dosados com
paracetamol mostraram significativamente menos atividade no DACC e na ínsula
anterior em comparação com os que tomaram apenas placebo. Os
pesquisadores alertam, no entanto, que, devido aos efeitos secundários nocivos
de drogas analgésicas, você não deve tomá-las sem prescrição médica.
Mais ou menos rejeitada
As
descobertas recentes podem explicar por que algumas pessoas têm mais
dificuldade de resistir a percalços em sua vida social do que outras. Pessoas
extrovertidas demonstram ter uma maior tolerância à dor do que as introvertidas,
e isso é refletido em uma maior tolerância a rejeição social.
Eisenberger
também descobriu que as pessoas que sentem mais dor física (por exemplo, quando
um eletrodo quente toca seu braço) também são mais sensíveis aos sentimentos de
rejeição (durante Cyberball, por exemplo). Essas reações podem ser parcialmente
genéticas. Eisenberger mostrou que as pessoas com uma pequena mutação no gene
OPRM1, que codifica um dos receptores opioides do corpo, são mais propensas a
ter sentimentos de depressão após a rejeição do que as sem a mutação. Essa
mesma mutação também torna as pessoas mais sensíveis à dor física – elas
geralmente precisam de mais morfina depois de uma cirurgia, por exemplo.
O
primeiro ambiente de uma criança também pode determinar a sua sensibilidade a
dor. Por exemplo, pessoas com alguns tipos de dor crônica são mais propensas a
ter tido experiências traumáticas na infância, como abuso emocional.
Os
adolescentes também parecem particularmente sensíveis à rejeição. A rede de dor
do cérebro está ainda em desenvolvimento nessa fase da vida, e, em comparação
com o cérebro adulto, tende a mostrar uma resposta mais exagerada a pequenos
insultos.
No
lado positivo, o apoio social durante este período pode levar a benefícios
duradouros. Por exemplo, jovens adultos com boas redes sociais no final da
adolescência apresentam reações mais suaves para a rejeição do que os que se
sentiam solitários no passado, talvez porque a memória de aceitação
subconscientemente acalme seus sentimentos.
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